terça-feira, 3 de março de 2009










Alfarrábios do Melo

Olá, saudações rubro-negras a todos,

Essa semana se inicia para o Mengão a disputa da Copa do Brasil. Desprezado por muitos, é um torneio de tiro curto que pode proporcionar ao clube uma nova perspectiva, pois o título o devolve ao caminho da Libertadores. Assim, aproveitando a deixa, segue a história da primeira conquista do clube, a já distante Copa do Brasil de 1990. Que o espírito aguerrido daquela equipe ilumine os comandados de Cuca nessa jornada que se aproxima.


A Copa do Brasil 1990 - Parte 1

21 de Junho de 1990. Todas as atenções estão voltadas para a disputa da Copa do Mundo da Itália. A Seleção Brasileira, treinada por Sebastião Lazaroni, acaba de se classificar para a segunda fase do Mundial, após vencer (sem convencer) suas três partidas. Nesse dia, a cobertura da TV se divide entre a repercussão da vitória brasileira sobre a Escócia (ocorrida na véspera), a “comemoração” de exatos 20 anos passados desde o tri no México (e o início do jejum) e a transmissão de outros jogos da Copa. No entanto, de forma quase anônima, no estádio de Moça Bonita em Bangu, começava para o Flamengo a disputa da Copa do Brasil, torneio recém-criado pela CBF que tinha como principal atrativo a conquista de uma das duas vagas para a Libertadores. O primeiro adversário do rubro-negro seria o campeão alagoano, a desconhecida equipe da Capelense.
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O Flamengo vivia um período conturbado, com intenso movimento de entrada e saída de jogadores. A péssima campanha no Estadual, um quarto lugar (pior resultado desde 1976) motivou a demissão de Valdir Espinoza. O ambiente interno era ruim, pois uma corrente no clube defendia o aproveitamento imediato dos jogadores campeões da Taça SP de Juniores (Djalminha, Júnior Baiano, Marcelinho, Nélio etc), e outro grupo clamava por grandes contratações. Um desses rumorosos reforços, o zagueiro André Cruz, veio para a Gávea a peso de ouro, após o Flamengo “atravessar” o Vasco na negociação (ainda uma retaliação ao “caso Bebeto”). André Cruz, à época titular absoluto da Seleção, até estreou bem, marcando um gol justamente no clássico contra o bacalhau (empate de 1-1), mas lesões e fracas atuações abreviaram sua passagem pela Gávea. Apontado como um dos responsáveis pela má campanha no Estadual, acabou negociado para o futebol belga.

Para o lugar de Espinoza, assumiu Jair Pereira, com o compromisso de aproveitar mais os jogadores da base. A espinha dorsal da equipe era formada pelo goleiro Zé Carlos, que ainda desfrutava de prestígio apesar de já não ser unanimidade (curiosamente ele atingia o ápice da carreira, ao ir ao Mundial), e por três remanescentes do tetra de 1987, o lateral Leonardo (mais maduro e considerado um dos principais jogadores), o meia Zinho e o atacante Renato Gaúcho, que voltava a ser um dos destaques do time. Esses jogadores agora estariam sob a liderança de Júnior, que se preparava para exercer um papel até então desempenhado por Zico (agora definitivamente aposentado). Júnior era o último remanescente do supertime dos anos 80, após a aposentadoria de Leandro, finalmente vencido por sua mal-formação óssea congênita.

Mas ainda havia mais bons valores no elenco. O zagueiro Fernando, ex-Vasco, firmou-se como titular (um dos poucos nomes vindos em 89 a vingar na Gávea), bem como o atacante Gaúcho, dotado de técnica limitadíssima, mas uma notável capacidade de fazer gols. Gaúcho vinha formando uma dupla devastadora com Renato, seu amigo particular. Os pontos fracos do elenco eram a lateral-direita, onde Josimar, alternando péssimas atuações com momentos de indisciplina, não emplacava, e a meia de ligação, após o fiasco de Edu Marangon, vindo da Portuguesa. Ainda havia o caso do promissor volante Uidemar, que demorava a se firmar, e disputava posição com o coringa Ailton. Como reforços, o grandalhão zagueiro Victor Hugo (destaque no Guarani) vinha suprir a saída de André Cruz, e o lateral Zanata, ex-Bahia e Palmeiras, era uma tentativa para a posição. Uma base perfeitamente capaz de assimilar os lançamentos dos jovens da Taça SP, em quem se apostava muito.

Voltando à Copa do Brasil. Diferente dos tempos atuais, apenas 32 equipes tinham vaga na competição, os campeões estaduais de 1989 e os vices dos principais campeonatos. Por isso, alguns clubes tradicionais ficaram de fora, como Corinthians, Palmeiras, Santos, Vasco e Fluminense. Não havia a regra do visitante que podia eliminar o jogo de volta, e o mando de campo era definido por sorteio. Assim, em plena disputa da Copa do Mundo, a CBF deu início à competição, o que evidentemente ocasionou um absoluto fiasco de público.

A principal mostra desse fiasco foi justamente a partida de estréia do Flamengo, acompanhada por apenas 187 testemunhas. O time, já desgastado com uma estafante seqüência de amistosos caça-níqueis (que o clube agendou, aproveitando o intervalo da Copa), demorou a entrar na partida, sentiu a correria e o entusiasmo dos alagoanos, sofreu o primeiro gol, demorou a empatar, e só na segunda etapa soltou-se mais (aproveitando o cansaço do adversário) e construiu a goleada de 5-1, mais apropriada para a diferença técnica das duas equipes. Na semana seguinte, em Maceió, outra goleada (4-0) e a vaga assegurada.

A seguir, veio o Taguatinga-DF que, a princípio, não assustava. É verdade que tinha nível técnico bem superior ao da Capelense. Também gostava de atuar fechadinho, explorando velozes contragolpes, fórmula muito bem sucedida contra o Vitória-BA, a quem vencera duas vezes na fase anterior (o time baiano não vinha numa boa fase). Mesmo assim, não deveria ser páreo para a equipe rubro-negra, muito mais qualificada. E assim, ainda sem chamar a atenção de sua torcida (1.761 pagantes), o Flamengo derrotou a equipe do Distrito Federal na Gávea por 2-0. No jogo de volta, o time local ainda tentou promover a partida, com algumas declarações apimentadas e promessas de revanche. Seja como for, cerca de 10 mil torcedores assistiram ao Flamengo jogar apenas o suficiente para cozinhar o aguerrido adversário e sair da capital federal com um empate em 1-1. O time jogava “na conta do chá”. Não havia treino, Jair Pereira acertava o time durante os jogos. Em um intervalo de dois meses, a equipe fizera 19 jogos, rodando por Parintins-AM, Imperatriz-MA, Manaus, Palmas-TO, Porto Velho-RO, entre outras cidades. E logo depois dos jogos contra o Taguatinga, a equipe ainda iria ao Chile disputar um torneio...

Assim, aos trancos e barrancos (menos pelo nível dos adversários do que pelo esgotamento de seus jogadores), o Flamengo chegava às quartas-de-final. Alguns favoritos já haviam ficado pelo caminho, como o Internacional (do novo treinador Espinoza...), que não suportou o alçapão do Criciúma (0-2), e o Cruzeiro, impiedosamente goleado (0-4) pelo Goiás. Aliás, os goianos já ensaiavam ser a sensação do torneio, pois após eliminarem o Cruzeiro, enfiaram 5-0 no Operário-MS, na maior goleada da competição. O Grêmio, campeão de 89, caía eliminado pelo São Paulo, após dois empates e desvantagem no gol fora de casa.

Tudo indicava que o adversário do Flamengo nas quartas seria o badalado Botafogo, de Gonçalves, Gotardo, Djair, Carlos Alberto Dias, Washington (ex-Fluminense) e Donizete (o “Pantera”). Mas a equipe de General Severiano, às voltas com a disputa do Estadual (que ganharia do Vasco em uma das mais patéticas finais vistas no Maracanã, com DOIS times festejando um título), não resistiu ao time do Bahia, mais determinado e concentrado, e foi eliminado em dois jogos muito equilibrados (1-0 e 1-1). O tradicional tricolor baiano estaria, então, no caminho do Flamengo.

Após uma excursão desastrada no Chile, o extenuado time do Flamengo estava de volta para a disputa da Copa do Brasil. Quatro dias após perder para o Colo-Colo, a equipe deveria estar em campo na Fonte Nova, para enfrentar o Bahia e sua fanática torcida, na partida de ida das quartas-de-final. E nesse entretempo, ainda estouraria uma bomba na Gávea: o clube havia cedido o lateral Leonardo e o atacante Alcindo, por empréstimo, ao São Paulo, em troca do meia Bobô e do veterano lateral Nelsinho.

Na semana que vem: os jogos decisivos, a quase-batalha dos Aflitos e a suada conquista do título.

Flamengo Net

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