quarta-feira, 28 de janeiro de 2009


COLUNA DE QUARTA FEIRA João Marcelo Maia


Chutes e pitacos


Esta coluna não é sobre futebol, até porque o time ainda não estreou no Estadual. Resolvi escrever sobre um episódio triste recentemente ocorrido na Gávea, em que tive vergonha do Flamengo como instituição. Refiro-me àquela entrevista coletiva bizarra que envolveu nosso presidente e três dos nossos ginastas.


Antes de tudo, digo que concordo com Márcio Braga: o COB é omisso com os clubes formadores, que preparam atletas e não são apoiados nesse processo. Também creio na sinceridade do dirigente, que afirmou que simplesmente não havia dinheiro para cobrir os custos da ginástica. A crise nos esportes olímpicos, como se sabe, é grave. Porém, incomodou-me, e muito, o descaso com que o assunto foi tratado.


A situação era a seguinte: uma estrutura esportiva que custa menos de 100 mil reais por mês deu ao Flamengo três atletas de projeção internacional, um deles campeão do mundo na sua modalidade. Essa conta não deveria ser apenas motivo de orgulho, mas de vergonha para um certo esporte no qual atletas que custam mais do que isso não tem projeção internacional nem no futebol boliviano. Pois é.


Diz-se que esses atletas não trazem retorno ao clube. Se isso é verdade, diz mais sobre a incompetência da instituição em valorizar seus atletas e elaborar estratégias de marketing do que sobre a suposta "inutilidade" deles. De minha parte, afianço que já cansei de ver o Hipólyto falar do Flamengo em suas entrevistas em rede nacional, provavelmente provocando espanto em muita gente que não sabia da tradição do clube nessa modalidade.


Na verdade, eu não estou falando de ginástica. Estou falando de algo mais genérico, que diz respeito à falta de cuidado dos nossos dirigentes com o patrimônio imaterial do clube. Sentados naquela mesa não estavam três ginastas, mas três atletas de projeção internacional formados no Flamengo. Poderiam ser do remo, do basquete ou do vôlei. Dado isso, não pode Márcio Braga constrangê-los da maneira que fez, como se estivesse diante de estorvos financeiros, gente que "rouba dinheiro do futebol" ou coisa que o valha.


Parece que acertaram uma solução com a prefeitura de Niterói. Ótimo. Mas a questão não é a engenharia financeira necessária, mas o cuidado com as coisas flamengas. Seja qual for a saída, ela não elimina o principal: um dirigente não pode tratar atletas formados no clube daquela forma, pois eles não são os responsáveis pelo descalabro que jogou o clube na falência virtual. Aliás, se há estorvos financeiros no Flamengo, a lógica primária do custo-benefício aponta para dentro de um gramado verde, e não para um ginásio olímpico.

Flamengo Net

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