sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

COLUNA DE SEXTA-FEIRA - André Monnerat

O tipo de coisa que já aconteceu em momentos como este

A grande questão do Flamengo no momento é a escolha do novo técnico. Com a recusa de Carlos Alberto Parreira e a falta de nomes que sejam minimamente de consenso, pode-se esperar qualquer tipo de escolha neste momento. Pra mostrar que quando falo "qualquer tipo" quero dizer "qualquer tipo" mesmo, vou relembrar aqui um outro momento em que o mesmo Kléber Leite se viu diante da falta de opções para ocupar o cargo de treinador do Flamengo.


1995. O ano do centenário, que começara em clima de festa com a chegada do melhor jogador do Mundo, ia se encaminhando de maneira desastrosa. Depois da perda do Estadual com o fatídico gol de barriga, Luxemburgo caiu e deu lugar a Edinho, que recebeu a responsabilidade de comandar um time com "o melhor ataque do mundo". Mas nada dava certo, a equipe ficou em último lugar de seu grupo na primeira fase do Brasileiro e a situação do ex-zagueiro ficou insustentável. Com sua saída e o cargo vago, começaram as especulações sobre o substituto. Kléber Leite não sabia o que fazer para tentar salvar seu projeto megalomaníaco.

Nosso então presidente, recém-dirigente, ex-radialista, foi se aconselhar com um velho amigo de trabalho no rádio. Jantaram juntos, passaram a noite conversando sobre o time. Imagino o quanto de álcool consumiram durante a refeição, mas o fato é que as opiniões do companheiro - de fato, um grande comentarista e muito rubro-negro - o convenciam cada vez mais. O resultado: no dia seguinte, a Nação estava em choque com a contratação de Washington Rodrigues.

Ao assumir o cargo, o Apolinho realmente não se preocupou em parecer um treinador normal. Além de ter colocado Arthur Bernardes para comandar os treinos em seu lugar, dava entrevistas usando suas expressões de efeito costumeiras no rádio (definiu o volante Pingo, por exemplo, como seu "chefe da SWAT"), levava uma TV pro banco de reservas pra assistir ao jogo com uma visão melhor, comemorava gols mergulhando de barriga no gramado em frente à Raça Rubro-Negra. Além da desconfiança sobre sua capacidade para o novo emprego, havia ainda a dúvida sobre como seria o relacionamento com Romário, a quem ele criticava ferozmente ao microfone, chegando a chamá-lo de "ídolo de barro". Mas, surpreendentemente, os dois se acertaram com velocidade espantosa.

Não que isso tenha ajudado muito o time; a campanha no Brasileiro continuou terrível e o esquema - definido pelo próprio treinador como "bico pra frente que os três tenores resolvem" - não ajudou Sávio, Romário e Edmundo a deslancharem. Restava, como salvação da temporada, a Supercopa, que era vendida como "o único título que o Flamengo ainda não tem". E, nesta competição, o desempenho do time era mesmo totalmente diferente.

Uma possível explicação: nela, Washington Rodrigues não pôde contar na maior parte do tempo com Romário e Edmundo - ambos suspensos após uma briga generalizada com o time do Vélez Sarsfield em um jogo ainda pela primeira fase, no Parque dos Sabiás, em Uberlândia. O time venceu por 3x0, com um gol de cada um dos astros do ataque. Mas, a partir dali, a força ofensiva do time passou a depender mesmo do prata da casa Sávio - e as coisas foram dando certo.

No Brasileiro, o aproveitamento do técnico foi de apenas 37%, com 4 vitórias, 8 empates e 6 derrotas. Já na Supercopa, o time chegou à final com 100% de aproveitamento, vencendo todos os seus compromissos, em casa e fora. Mas a única derrota do time na competição - 2x0 para o Independiente, no primeiro jogo da final na Argentina, com uma participação desastrosa do goleiro Paulo César no resultado - acabou pondo tudo a perder. Na volta, em um Maracanã superlotado (talvez o maior perrengue que eu tenha passado no estádio na minha vida - tiveram que abrir os portões graças à confusão com o excesso de gente do lado de fora), a vitória por 1x0 com gol de Romário não foi suficiente.

Se o título tivesse vindo, talvez a memória coletiva sobre a passagem de Washington Rodrigues fosse bem diferente. Mas não veio, e o que ficou foi a impressão de mais uma das trapalhadas do terrível ano do centenário rubro-negro. E podem crer que muito do que aconteceu naquela época continua pesando até hoje.

Fica a torcida para que alguém por lá tenha aprendido alguma coisa, não só com essa mas com outras tantas histórias de coelhos tirados da cartola em momentos de indefinição como este. Kléber, Márcio: por favor, tentem não inventar demais.

• André Monnerat é profissional de marketing em Internet, só foi técnico até hoje de time de botão e escreve também no SobreFlamengo

Flamengo Net

Comentários