quarta-feira, 10 de dezembro de 2008


COLUNA DE QUARTA FEIRA João Marcelo Maia

Chutes e pitacos

Fim de ano, temporada esportiva terminada e cabeça um pouco mais fria depois da gangorra mocional que foi esse Brasileiro, podemos começar a refletir sobre o saldo de 2008. Se é que houve um saldo propriamente dito, já que o Flamengo sai mais devedor do que credor.

Conquistamos um Estadual e nos igualamos ao Fluminense em títulos. Legal, em especial pelo bi em cima do time do Off-Price. Mantivemos a base da arrancada de 2007, saímos na frente em entrosamento e despontamos como um dos favoritos para o segundo semestre, em especial pelo desentrosamento de rivais e pelo fraco desempenho do São Paulo de Adriano.

Iniciamos a Libertadores já cientes dos erros de 2007, que exigiam disciplina e atenção redobrada para jogar mata-mata internacional. Fizemos alguns jogos bons, outros bem ruins, mas nos classificamos novamente para as oitavas. Desnecessário repetir o que aconteceu, e que evidenciou, num simples ato, todos os defeitos não apenas do time, mas da instituição Flamengo contemporâneo: soberba, "já ganhou", fanfarronada, instabilidade e banalização do Maracanã. Num mundo em que o Flamengo perde para um América-Mex por 3 a 0 dentro do Brasil, qualquer coisa é possível. É a derrubada completa de qualquer referência moral que sirva de padrão para avaliar fenômenos e ações.

O Brasileiro foi uma simples decorrência da tragédia desencadeada por esse evento. Vitórias espantosas, derrotas grotescas, fanfarronada e histrionice de dirigentes, irregularidade e ausência de firmeza moral. Não se iludam: não perdemos o Brasileiro simplesmente porque a diretoria foi incompetente para refazer o elenco depois das transferências. Perdemos porque o time e a instituição naturalizaram a tragédia diante do América e repetiram o mesmo comportamento que nos levou ao vexame.

Fora da Libertadores e com um Estadual na mão, o saldo esportivo foi negativo. A dívida construída na Libertadores só poderia ser equacionada com o Brasileiro, e a torcida nunca foi tão sábia ao ir para as arquibancadas com aquela faixa. Negativo também me parece ser o saldo administrativo. O que se iniciou com promessa de estabilidade e planejamento, terminou mal. O longo contrato com Caio Jr. virou fumaça. A Timemania pode virar um dos maiores micos de 2009 quando o Flamengo tiver que fazer aportes pesados mensalmente. Depois de entrarmos 397 vezes no Refis, vamos precisar de 786 ajustes na loteria.

Também não houve mudanças significativas na gestão do futebol. Estão lá as promessas de um novo ano, as grandes contratações, a novela do patrocínio, a ilusão do Estadual etc. Que adianta trazer o Parreira se ele vai ser sacudido pelo diretor de bocha na segunda derrota do ano? Tivemos fatos positivos, como o projeto das Embaixadas e a disposição evidente para equacionar as finanças. Mas o saldo não é dos melhores.

Não estou entre aqueles que crêem no "oito ou oitenta", ou seja: ou muda tudo completamente, ou nada mudará de forma efetiva. Não acho que apenas uma grande ruptura institucional pode conduzir o Flamengo ao bom caminho novamente. Há que se trabalhar com possibilidades e personagens concretos, que estão à mão, e a mudança pode vir de forma gradual e irregular. Mas de uma coisa tenho certeza: por mais lenta que seja, a transformação tem que ter uma direção, um norte, um sentido. E tenho dificuldade de ver na sucessão de fatos que vi ao longo do ano sinais contundentes e regulares dessa direção. Espero estar com problemas de visão.

Flamengo Net

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