sábado, 1 de novembro de 2008

Meu bem, meu mal. Ou o fim de um sistema de jogo

Inútil para as pretensões do Flamengo no campeonato, o jogo de hoje apenas serviu para atestar algo que eu já penso há algum tempo - e meu amigo Hermínio é testemunha desse raciocínio: a maior força do Flamengo é, ao mesmo tempo, sua maior fraqueza.

Falo dos laterais -ou alas - Léo Moura e Juan. Funciona como a composição de Caetano Veloso, eternizada na voz inigualável de Gal Costa: "Meu medo e meu champagne/Visão do espaço sideral/Onde o que eu sou se afoga/Meu fumo e minha ioga/Você é minha droga/Paixão e carnaval/Meu zem, meu bem, meu mal".

Para o Flamengo, os camisas 2 e 6 são isso - bem e mal. Quando estão num bom dia,  ainda mais simultaneamente, são capazes de acabar com qualquer jogo. Por outro lado, é justamente a qualidade ofensiva de ambos que leva todo treinador a basear um esquema nesse potencial. As vezes dá certo, muito certo, e o time até que não tem se saído tão mal - os resultados são abaixo das nossas expectativas, mas há pelo menos um ano que nossa média de aproveitamento supera a casa dos 60%, algo que não estávamos habituados.

Por outro lado, a tentação de explorar essa força acaba por moldar todo um esquema tático. Resultado: há algum tempo que o Flamengo não tem um meio de campo criativo, variações de jogadas, e fica refém de um esquema com três zagueiros. Ou seja, temos volume de jogo mas criamos poucas chances para nossos atacantes - e há algum tempo que o Manto não é vestido por um matador acima de qualquer suspeita.

Quando um técnico adversário consegue neutralizar essas forças, ou quando um ou os dois jogadores apresentam um rendimento abaixo da crítica, o Flamengo costuma ir muito mal. Como ocorreu na noite de sábado, diante da Lusa, em que Juan foi o pior em campo. Disparado!

A exemplo do que já fizera em Salvador, o ala esquerdo pouco produziu. Foi omisso, errou muitos passes, parecia sem confiança para jogar nas características que o levaram à seleção. 

Caio Junior errou ao não perceber esse problema já no primeiro tempo. Se Juan é uma peça nula, e nada faz ofensivamente, tanto melhor escalar um jogador só para defender - Luizinho, que seja. Pelo menos o time não esperaria nada daquele lado. Pois dali só surgiram contra-ataques para a Lusa.   

É certo que a tal da "alas dependência" fez o Flamengo ganhar muitos jogos, mas criou um modelo do qual ficamos quase escravos, incorporando uma série de outros problemas e vícios em todos os setores do campo, para encaixar o time. O excesso de volantes, por exemplo.

Receio afirmar que o fim desse modelo tenha sido decretado hoje, ainda que possa agonizar mais algumas rodadas, um semestre talvez.

Certo é que um novo Flamengo, campeão de títulos importantes como desejamos, passa pela compreensão - absolutamente essencial, na minha opinião - de que tal sistema de jogo já deu o que tinha que dar. 

Que ele descanse em paz.

Flamengo Net

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