CADERNINHO DO SIMÕES LOPES XXX
Calma, não é nada disso que estão pensando... XXX é apenas “trinta” em algarismos romanos. Acontece que em 2008 completo trinta anos na minha carreira de torcedor, que começou no augustíssimo campeonato carioca de 1978. Nestes anos já presenciei tanta coisa, que resolvi fazer um resumo do Flamengo (ou dos Flamengos, para ser mais exato) que eu acompanhei ao longo destas três décadas de emoções sempre fortes.
DEUSES DA RAÇA E XERIFES (Parte 1 de 3)
O Flamengo em 1978 tinha um nome absoluto em sua zaga: seu nome Rondinelli. Um zagueiro que já atuava no Flamengo desde as divisões de base, e que conquistara a posição de titular após 1974. Um cara capaz de meter a cabeça nos pés de Rivelino para impedir um chute. Um sujeito que ganhou o apelido de Deus da Raça. Um beque que fez o gol do título do arquetípico e cosmogônico Estadual de 1978, quando tudo começou. Estava eu em casa, no sofá, agarrado ao radinho de pilha, esperando por aquela cobrança de córner aos 41 minutos da etapa derradeira. Zico cruza, Rondinelli vem de trás, engana Abel, e fuzila as redes do sempre-freguês Leão. Era ele o zagueiro-central daquele time (nunca entendi direito a diferença entre um zagueiro-central e um quarto-zagueiro), o camisa 3, continuaria na posição até a Libertadores de 1981, quando um desentendimento com técnicos e dirigentes fez com que ele fosse vendido ao Corinthians, onde não conseguiu repetir o sucesso rubro-negro, e — blasfêmia — acabou em 1982 sendo contratado pelo Vasco, onde não se adaptou — claro.
Na temporada anterior Rondinelli chegara a formar uma dupla de zaga mui respeitosa com Carlos Alberto Torres, que se transferira naquele mesmo ano para o Cosmos de Nova Iorque. Os companheiros do Deus da Raça na zaga agora eram Manguito, típico beque-de-roça trazido do Olaria (estarei enganado?), e Nélson, contratado no ano anterior ao Guarani, um jogador mais clássico. Ambos chegavam para substituir os jogadores pratas-da-casa Jaime (filho do lateral-esquerdo tricampeão Jaime, e da mesma safra que Zico e Rondinelli) e Dequinha, outro recém-saído dos juvenis, que chegara a ser titular nos idos de 76 e 77, mas que estava emprestado, o Deus da Raça ainda tinha como reserva o xerife dos xerifes Moisés, que pouco jogou em 1978, e acabou vendido ao Fluminense, e ainda iria distribuir seus pontapés pela Portuguesa e Bangu, até se aposentar neste time, virando treinador. Nélson, apesar da maior qualidade, jamais conseguiu se firmar na posição, e acabou perdendo a posição para o botinudo Manguito, que formaria uma dupla com Rondinelli até 1980, quando o Flamengo trouxe do Londrina o paranaense Marinho, que modestamente chegaria ao time para fazer história. O time ainda teve, em 1979, o retorno desastroso de Dequinha, e a presença fugaz de um beque chamado Boca (acho que sou o único que lembra dele?), mas ninguém saiu da reserva.
Após a conquista de seu primeiro título brasileiro, a diretoria ousava com a contratação rumorosa do afamado zagueirão Luís Pereira, titular na Copa de Holanda, vindo de uma temporada de sucesso na Espanha. Considerado por muitos como o melhor beque brasileiro, o badalado Luisão Pereira decepcionou, e não encontrou espaço num elenco que, já campeão nacional, preparava-se para a Copa Libertadores. Na competição sul-americana, além dos titulares Rondinelli e Marinho, o elenco contava com os talentosos Mozer e Figueiredo, que graças à saída de Rondinelli e às contusões de Marinho, acabaram praticamente atuando a Copa inteira, num ano em que acabaríamos ganhando quase tudo.
Continua na Parte 2.
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