terça-feira, 12 de agosto de 2008

TEXTO DA SEMANA - Alessandro Romano

Vivos como nunca

O rubro-negro, por essência, é um sujeito imediatista, impaciente, competitivo e pouco afeto a lidar bem com insucessos. Acostumado a liqüidar o inimigo na hora da verdade, com requintes de crueldade e sem um mínimo de compostura, independentemente de qualquer tipo de superiodade qualitativa ou quantitativa, estamos inclinados a desempenhar melhor nossas atividades sob forte pressão e cobranças, típicas daqueles sobre quem recaem as maiores expectativas.

O problema é que essa tal "hora da verdade", num campeonato por pontos corridos, não existe. Talvez por isso esse tipo de disputa não seja nosso forte. É algo cultural. Nem na época dos timaços de Zico e cia. ficávamos em primeiro na fase de classificação. Até acho bem provável que se o campeonato brasileiro fosse nestes moldes desde o início, não tivéssemos conquistado nossos cinco títulos. O Flamengo, o flamenguista, precisa da DECISÃO, da hora do 'vamuvê', porque é nessa hora que nossa espetacular torcida e, mais ainda, nosso inigualável espírito guerreiro e vencedor se sobrepõem aos demais. Além de todo aquele blábláblá chato, mas correto, de que um campeonato nesses moldes requer dos clubes que desejam conquistá-lo um mínimo de estrutura, planejamento e estabilidade financeira, devemos somar nossa pouca habilidade em lidar com rotina e o pragmatismo. Não crescemos e não fomos educados assim. O Flamengo que aprendemos a admirar é aquele que supera as flagrantes adversidades e, contra todo e qualquer senso comum, conquista suas glórias na base da superação e da mágica comunhão gramado-arquibancada. O fato é que isso jamais acontecerá no Orlando Scarpelli, numa quarta-feira à noite, num jogo depois da novela contra o décimo-sei-lá-o-quê da tabela.

Apesar de tudo, terminamos esse primeiro turno como nunca antes nesta era chata de pontos corridos. Colado na zona do G-4, que nos levará à Libertadores pelo terceiro ano consecutivo, podemos olhar para trás e verificarmos com facilidade que nem tudo são espinhos. Nem precisamos ir tão longe, no ano passado terminamos esta fase em penúltimo lugar. E todos se recordam de como, todos juntos, somos capazes de operar verdadeiras revoluções.

A diretoria foi, mais uma vez, amadora e incompetente, mas até com isso estamos plenamente acostumados. Acho que o dia que não for assim as coisas serão tão fáceis para nós que perderá a graça. Mas enquanto tivermos dirigentes mais preocupados com seus saldos bancários do que com o futuro de um dos clubes com maior potencial do planeta e torcidas organizadas que não pagam ingresso e acham por bem explodir os jogadores, a adversidade terá que ser transformada naquele combustível extra que sempre conduziu nossos grandes esquadrões às vitória épicas.

O segundo turno está aí. Um novo campeonato está começando. E já provamos por A+B que, se existe um time capaz de mudar a história de um campeonato, esse time é o Flamengo. Passamos por sete rodadas de inferno, com vendas, desfalques, azares e contusões de todas as espécies. Mas saímos de tudo isso com uma vitória na nossa casa, utilizando praticamente uma equipe reserva, de peito inflado e cabeça erguida. Piorar o que vinha ocorrendo, não pode. E não irá.

Nosso meia vai chegar. Com ele e nossos laterais, temos tudo pra fazer o ataque funcionar, com ou sem o Love. O Vandinho, no primeiro jogo, já mostrou a que veio fazendo um gol que não é pra qualquer um. Com nosso apoio, pode arrebentar de vez.

Não vejo nenhum bicho-papão nesse campeonato. Todos os times estarão sujeitos aos altos-e-baixos e os que escaparem incólumes deles terão mais chances. É hora de apoiar, mais que nunca. Chega de vaias, não ajudam e ninguém agüenta mais. Não vão trazer nossos armadores de volta. E, enquanto não chegar alguém, será o Ibson. E ele precisa ser apoiado. Imaginem se lhe mandam fazer algo que não sabe e para o qual não foi devidamente preparado e, apesar de seu esforço, vontade de quebrar o galho e todas as dificuldades intrínsecas, ainda fica alguém no teu ouvido te criticando e xingando tempo todo? Pensem bem na hora de escolher os cristos, não vejo ninguém cobrando o KL nos estádios...

No momento, somos o cavalo paraguaio, o time da queda-livre, o motivo de chacota de muita gente da imprensa "imparcial". E, sinceramente, nos sentimos muito mais confortáveis assim. Nunca nos demos bem com a fama de time da moda. Mas o mesmo time que operou a inacreditável arrancada do ano passado está lá, exatamente no mesmo lugar, com exceção do Souza. Só que agora, em vez de 16 posições, só precisamos tirar dois pontinhos para chegar ao grupo da Libertadores. E os que estão acima também, em algum momento, irão tropeçar. Aos roucos de tanto vaiar, talvez este seja o momento de desafiarmos esse nosso espírito imediatista e impaciente e tentarmos apoiar esse time o máximo que pudermos. Com objetivos a longo prazo. O campeão é aquele que lidera o campeonato na última rodada , não na décima-nona. E estar em sexto lugar a dois pontos da zona de classificação para Libertadores não pode ser motivo para bombas e vaias incessantes durante o jogo, senão a liderança será mesmo um alvo distante.

Eu acho que dá. E vocês?

Então, torcida e KL, mãos à obra! Entramos na fase decisiva como nunca antes. Hora da Nação gritar como nunca e fazer valer sua fama, e da diretoria contratar bem e reduzir o preço dos ingressos. Casa cheia é fundamental pra gente! Como diz um companheiro de blog: é preciso desenhar, diretoria? É hora de usar nosso grande diferencial: o poder de decisão! Alguém quer pedir baixa e sair da linha de frente?

Flamengo Net

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