domingo, 9 de março de 2008


Yankees Go Home

Tudo bem, mais uma peladinha pelo Carioca na base de 40 pilas a arquibancada. Não dá nem vontade de comentar, mas vamos pro jogo. Antes que a galinha dos ovos de ouro morra de uma vez republico aqui uma interessante coluna escrita pelo meu amigo e engenheiro rubro-negro Olavo Pascucci, um dos poucos sábios em atividade no Brasil que ainda não arrumou uma boquinha no governo. Podemos até contestar o ponto de vista do preclaro engenheiro, mas temos que admitir que ele o apresenta de forma contundente. Um bom domingo pra toda a rapaziada.

Do pó-de-arroz e outras perobagens

Uma magistrada que estou merendando (primeira instância, recém concursada) achou por bem compartilhar comigo a seguinte nota do Globo Esporte. Trata do acolhimento, pela veneranda Justiça do Rio, da pretensão da torcida do Fluminense de fazer arruacinhas histéricas, no Maracanã, com o tradicional pó-de-arroz.

Não tive acesso aos fundamentos da decisão, mas minha fonte assegurou-me, enquanto limpava os respingos que lhe ficaram pendentes do queixo, que a sentença fôra prolatada (ela disse assim, “prolatada”) por um seu colega esquisitão, que usa cavanhaque, faz spinning e escuta jazz. Aparentemente, o perobo teria argumentado que a proibição vigente feria sei lá que garantias constitucionais, tributárias do direito inalienável de dar o xx, e que perseguir o pó-de-arroz nos estádios não era medida essencialmente diferente da proibição da rainbow flag em passeatas, ou de calças de couro com zíper, quepes da NYPD e trosobas de plástico preto flexível em boates da Farme de Amoedo.


O fato é que a decisão judicial só fez intensificar, no Rio de Janeiro, uma atmosfera que eu talvez pudesse descrever, não sem rigor clínico, como euforia anal. Há semanas que a pequena e esquisitona torcida do Fluminense vinha interpelando as autoridades constituídas demandando fosse revista a proibição, em gritinhos de guerra como “Ui! É pó-de-arroz!”, “Fascina pela sua disciplina / o Fluminense me domina” e “É legal / ser homossexual”. Alegavam que o pó-de-arroz está indissociavelmente ligado à história do clube, eis que, nos primórdios do século XX, moçoilos de boa família, com sobrenomes como Welfare, Guinle e Cox (do ramo Cox-Sucker), surrupiavam a caixinha de maquiagem das irmãs para tornar mais apresentáveis o filho do caseiro, o jardineiro, o contínuo do pai, e franquear-lhes o acesso à sauna e ao banho turco da sede das Laranjeiras. Na sociedade preconceituosa de então, que não aceitava o amor em sua plenitude, parece que não ficava bem um rapaz de boa família andar por aí com “primo” mulato.

Não sei se os leitores esperam um pronunciamento meu sobre essa questão, que tanto ocupou os profissionais da crônica esportiva nos últimos dias. Já disse, noutras ocasiões, que eu sou um sujeito de paz, avesso a violências e constrangimentos contra quem não faz mais do que dar ou emprestar ou alugar o que é seu de direito. Ao mesmo tempo, no entanto, me é forçoso reconhecer que demonstrações assim públicas de baitolagem incomodam quem não as pediu nem espera vê-las, caso da imensa maioria dos que freqüentamos o ambiente predominantemente heterossexual dos estádios de futebol (excetuados aí, naturalmente, as Laranjeiras e o Morumbi). Se a coisa seguir por esse rumo e a perobagem organizada for obtendo mais e mais conquistas judiciais, periga o sujeito de bem ser forçado a aturar, em futuro não muito distante, marmanjo jogar bola com macaquinhos grenás semelhantes aos das meninas do vôlei, para marcar bem a trosoba dos atletas e com isto comprazer o nicho de mercado dos torcedores afluentes que chegam aos quarenta sem mulher para sustentar nem filho para criar.
Pensem nisso.

Mengão Sempre

Flamengo Net

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