sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Direto do Túnel do Tempo


Imaginem a Lagoa na época pré-túnel, com apenas algumas casas às suas margens, alguns cavaleiros da Hípica ainda podiam se dar ao luxo de cavalgar pelo matagal que se estendia da Curva do Calombo até a finada favela da Praia do Pinto. Em frente ao Estádio de Remo, dominando todo os arredores com seu monumental lance de arquibancadas, a mítica sede do Flamengo. Esse foi o cenário que aquele menino magrinho, ainda pequeno para seus 14 anos, visualizou quando pela primeira vez em sua vida saiu de Quintino para colocar os seus pés sagrados no não menos sagrado chão da Gávea.

Naquela quinta-feira, 28 de setembro de 1967, trazido pela mão pelo radialista Celso Garcia, Zico treinou pela primeira vez no Flamengo. Antes de mostrar seu talento em campo, Zico precisou que Celso Garcia, com muita lábia, dobrasse o preconceito do imortal craque Modesto Bria, aquele da histórica linha média do primeiro TRI; Biguá, Bria e Jayme, então responsável pelas divisões de base do Mengão. Como tudo na vida do craque, o treino não foi moleza. No capítulo intitulado Escalando o Everest, de sua autobiografia, Zico – 50 Anos de Futebol, escrita com Roberto Assaf e Roger Garcia, o Galo de Ouro da Gávea nos conta como foi aquele treino que entraria definitivamente para a história do futebol mundial.

“O que me movia era a coisa de Flamengo, de entrar para o meu clube de coração, que era o que eu mais desejava. Mas o primeiro momento foi de decepção, pois a escolinha tinha duas categorias, e apareci no dia do treino dos garotos mais velhos. O Bria não queria me aproveitar. Assim mesmo, o Celso criou toda uma situação, para não desperdiçar a nossa viagem, e acabei entrando. Não foi nada demais, só deu pra fazer umas gracinhas, aquela não era a minha praia. Eu realmente fiquei assustado quando cheguei à Gávea, naquele primeiro dia; os caras eram bem maiores do que eu. O fato é que me mandaram voltar no dia seguinte, uma sexta-feira, para me apresentar para a partida de domingo, contra o Everest. Eu me apresentei aos responsáveis pelo meu núcleo, o Célio de Souza e o José Nogueira. Joguei e fiz dois gols na vitória de 4 a 3. Mas não me lembro de quase nada. Só quando pego alguma foto da época. De qualquer jeito, foi ali que o meu sonho começou a se tornar realidade. Eu tinha sido aceito na escolinha do Flamengo.”

Se existe uma data que todo rubro-negro deveria trazer sempre junto ao peito, 28 de setembro, indiscutivelmente, é uma delas. Um daqueles dias que modificaram a nossa história para sempre. Já pensaram se o Celso Garcia não consegue convencer o Bria? Mas nada neste mundo é por acaso, o que tem que acontecer acaba acontecendo mesmo. Desculpa aí, galera. Nem vou escrever mais nada, me emociono muito com essas paradas. A ilustração é do grande rubro-negro Pablo Lobo. Salve Zico. Salve, Salve! Longa vida ao nosso Rei.

Mengão Sempre

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