Memórias de Ouro
Na sexta feira participei como penetra de uma festa rara: a comemoração dos 49 anos da conquista da Copa do Mundo de 1958. Alguns dos heróis estavam presentes, outros enviaram mensagens em vídeo que foram exibidas num telão. A festa foi organizada pela produção do documentário Memórias de Ouro, que será lançado no ano que vem, na comemoração dos 50 anos da nossa primeira Copa. Estavam lá Zito, Dino Sani, Pepe e, após mais de 40 anos sem colocar os pés no Brasil, o rubro-negro Moacir.
Hoje pouca gente lembra, mas Moacir foi um cracaço, ídolo da torcida do Mengão e, que saudade, ídolo do meu pai. Veio de São Paulo ainda moleque e conquistou um lugar no time que havia acabado de conquistar o segundo tri em 53-54-55, e não conquistou um lugar qualquer, barrou simplesmente o intocável Dr. Rúbis.
Não satisfeito em barrar Dr. Rubis no Flamengo aos 20 anos, Moacir barrou Didi na Seleção aos 22. Convocado por unanimidade para a Copa da Suécia, Moacir saiu do Brasil como titular e só foi pro banco depois que Didi, ao comentar as espetaculares performances de Moacir nos treinamentos cunhou uma mas mais lapidares frases da língua portuguesa:
- Treino é treino, jogo é jogo.
Moacir foi Campeão do Mundo pelo Brasil, jogou por três anos e foi Campeão Uruguaio pelo Peñarol, Campeão Argentino pelo River Plate, Campeão Equatoriano pelo Barcelona de Guayaquil e lá pelo Equador ele ficou, criou familia e raízes e se tornou um técnico vitorioso.
Com 71 anos, Moacir é um senhor muito discreto e elegante. Parece estar em boa forma física e ainda trabalha como técnico de divisões de base no Equador. Na rápida conversa que tivemos falou com grande alegria do Flamengo, onde iniciou a carreira de forma arrebatadora. Em voz baixa e se confundindo às vezes com o português quis saber como fazer para encontrar seu amigo Carlinhos Violino e mostrou interesse em saber da situação atual do clube. Soube que ele encontrou o Carlinhos no dia seguinte, mas se alguém contou pra ele a situação do Flamengo não fui eu. Num momento de festa seria muita falta de catiguria entrar num assunto desagradável desses.
Mesmo depois de tanto tempo longe do Brasil Moacir se disse rubro negro. Uma das suas mais caras lembranças é do presidente Gilberto Cardoso (o pai) que lhe informou logo quando chegou à Gávea que haviam 8 meias direitas no clube, começando pelo Dr. Rubis e que ele teria que jogar muita bola para ficar no Flamengo. Mesmo sendo de natureza humilde, o entusiasmo do adolescente Moacir não deixou de responder na ficha: - Vou superar todos eles, doutor Gilberto.
O Luis Mendes estava lá também e dedicou umas palavras muito elogiosas ao Moacir e ao seu futebol rápido e elegante. Outros coroas que lá estavam foram unânimes ao afirmar que Moacir foi um monstro. Como eu, milhões de rubronegros não tiveram a sorte de de ver Moacir em ação. Mais um a figurar na galeria dos sonhos de consumo impossíveis onde já estão Domingos, Leônidas, Biguá, Jair, Zizinho, Dida e tantos outros. O que importa é que Moacir é um guerreiro rubro-negro feito na Gávea, que merece nosso respeito e nossos aplausos.
Mengão Sempre
segunda-feira, 2 de julho de 2007
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