sábado, 9 de junho de 2007

Livro do Desassossego

Conformar-se é submeter-se e vencer é conformar-se, ser vencido. Por isso toda a vitória é uma grosseria. Os vencedores perdem sempre todas as qualidades de desalento com o presente que os levaram à luta que lhes deu a vitória. Ficam satisfeitos, e satisfeito só pode estar aquele que se conforma, que não tem a mentalidade do vencedor. Vence só quem nunca consegue

Fernando Pessoa

O Brasileiro ainda nem esquentou, as atenções de muitas equipes ainda estão divididas com os mata-matas nacional e continental e, contrariando as Cassandras, o Flamengo ainda não pôs o pé na zona. Mas nesses tempos loucos em que o fundamentalismo religioso voltou à moda alguns até então sensatos e pacatos flamengos talvez tenham passado a acreditar nas 64 virgens prometida aos homens-bomba no além e aderiram ao Hezbollah rubro-negro. Pios e catastrofistas como só os convertidos sabem ser, clamam sanguinariamente pela cabeça do treinador como se tivessem a Salomé de Herodes incorporada e o Flamengo estivesse a duas rodadas da desonrosa segunda divisão. Exagero.

Podem reparar que os maiores defensores do Nei Franco não são aqueles que o consideram um bom treinador, mas sim os que defendem o conceito da continuidade sobre todas as coisas. Para a maioria desses apoiadores de ocasião do Rinus Michels das Alterosas o trabalho dele não é melhor nem pior do que os luminares táticos que passaram pela Gávea nos últimos anos como Joel, Waldemar, Nelsinho, Abel ou Evaristo. A única vantagem do Nei sobre esses caras é que ele teve mais tempo com a mulambada. Esse duvidoso privilégio é o x da questão. Por pior que o Flamengo jogue, e tem jogado muito mal, o retrospecto de Nei Franco no comando da mulambada é bom, seja lá a régua que se use. Não é psicodelismo imaginar que se tivessem deixado o Andrade no emprego durante um ano inteiro com um elenco equivalente o resultado provavelmente seria o mesmo: uma Copa do Brasil, uma Taça Guanabara e um Campeonato Carioca.

O Flamengo tem problemas mais graves que a falta de popularidade do Nei Franco. Como todo mundo já sabia que ia acontecer assim que abrissem a janela das transferências européias, começou a liquidação 2007 na Gávea. Naturalmente que essas transações que se anunciam só vão servir pra desmantelar o pouco conjunto que conseguimos consolidar desde o último feirão no fim de 2006. Bruno já era e tudo indica que Renato Augusto vai vazar e finalmente aprender a chutar treinando pra caramba em um time de segunda na Europa. É a vida. No moderno futebol business não há espaço para sentimentalismos saudosistas, jogador que presta não fica mais de um ano no Flamengo, isso já se tornou uma praxe. Pena que pelas malas que atravancam o bagageiro (nem precisamos dar nomes) ninguém se interesse.

É evidente que essa conversa de Fora Nei, Fica Nei já deu o que tinha que dar. Desde março que pedem o couro do homem e não adiantou nada, ele continua armando o Flamengo como se fosse o Bonsucesso jogando em Teixeira de Castro, na retranca. Temos que esperar alguma coisa acontecer, ou 3 vitórias convincentes e anestesiantes que vão dar uma acalmada nos caçadores de cabeça ou 3 cipoadas na seqüência pro Nei Franco rodar conforme o protocolo. Ainda que o duvidoso prêmio seja aturar por sabe-se lá mais quanto tempo o Mengão Cósmico travestido de timinho prefiro as 3 vitórias anestesiantes. Cada um que faça sua aposta.

Mengão Sempre


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