Show de horrores
Tenho quase 31 anos de idade, e desde que me entendo por gente que sou Flamengo. Tive minha primeira infância embalada por aquele que foi, não só o time que conquistou mais títulos na história do clube, como também era, em sua época, o melhor time do planeta. Posso dizer que fiquei mal-acostumado, mas também, não era pra menos: foi o único time que conseguiu ganhar três títulos em quatro edições seguidas dos campeonatos brasileiros. E todos os outros títulos que a gente tá cansado de saber.
Já fui rato de arquibancada. Já fui até a Argentina pra ver o Flamengo jogar. Já fui correndo, numa quarta-feira à noite, do Maracanã até a Rodoviária Novo Rio, depois de ver uma vitória do Flamengo, pra poder dar tempo de pegar o último ônibus e voltar pra Cabo Frio. E, do mesmo jeito que tive muitas alegrias, tive muitos dissabores com o Flamengo.
Como eu disse, eu fui mal-acostumado com muitos títulos, times competitivos, ou às vezes, nem tão competitivos, mas que encarnavam a mística de uma camisa que andava sozinha, tal qual o Fantasma das histórias em quadrinhos. Jogadores limitados, mas que se aplicavam de uma tal maneira que superavam as limitações e deficiências técnicas.
Porém, desde o último título brasileiro, em 92, começou a derrocada técnica do Flamengo. Em 94, um time horrível disputou o Brasileiro e só deu alegria ao tirar a invencibilidade do Palmeiras/Parmalat com uma atuação memorável do Sávio (o único bom jogador da equipe). Em 95, o gol de barriga do Renato e uma ameaça de rebaixamento no Brasileiro, com ?craques? como Márcio Costa e cia. Em 96, o Brasileiro veio com a seqüência de goleadas por 4 a 1 (foram 3 ou 4, se não me engano) e o ?talentoso? equatoriano Rivera na lateral-direita.
A situação se agravou mais de 2000 pra cá. A cada ano, times piores e mais jogadores medíocres vestiram a camisa do Flamengo. Voltamos a Libertadores em 2002 para fazer uma campanha horripilante. Porém, nada pode ser tão ruim quanto o atual time rubro-negro. Minto: a conjuntura atual do Clube de Regatas Flamengo é pior, muito pior. Os problemas não são apenas do time dentro de campo.
Quem manda no futebol é um pseudocartola que nada entende do assunto, e, ainda por cima, é apadrinhado de um dos empresários que mais contribuem para o empobrecimento do futebol brasileiro, ao exportar jogadores cada vez mais jovens para mercados cada vez menos expressivos (e por cada vez menos dinheiro).
O início de temporada ridículo deixa cada vez mais claro para mim ? e pra qualquer torcedor um pouco mais racional ? que o rebaixamento do qual fugimos nos últimos anos está bem próximo de se tornar uma realidade em 2005. No show de horrores que se tornou o departamento de futebol profissional (quá, quá, quá) do Flamengo, ninguém manda, e quando aparece alguém capacitado, tentando trabalhar de maneira realmente profissional, mesmo com todas as limitações do elenco, este alguém é defenestrado da maneira mais ridícula possível. Como se não bastasse, a diretoria ainda tem o desplante de dizer que o acordo para a saída do treinador Cuca foi 'em consenso'. Até para mentir é preciso um pouco de competência.
Além disso, a cada novo vexame, eu tenho a sensação de que um time que eu achava horrível pros MEUS padrões de Flamengo (o do bicampeonato estadual, em 2000, com Tuta, Mozart, Beto, Reinaldo e outros menos cotados), hoje daria orgulho à torcida, e até receberia um apelido: os Flaláticos.
Domingo começa o Campeonato Brasileiro, e mais uma vez, o Flamengo entra na competição pensando em não ser rebaixado. É difícil demais pra um pai levar um filho no Maracanã hoje pra ver Ricardo Lopes, Fabiano, Dimba, Júnior e afins... É mais difícil ainda ouvir do seu filho que ele não quer ser mais Flamengo, porque 'o Flamengo só perde'. E disso, eu posso falar de cadeira, porque tem acontecido comigo direto...
Mas eu sou teimoso: sábado devo ir com ele ao Maracanã ver mais uma sessão do show de horrores. Quem sabe as coisas não mudam nesse Brasileiro...?
quinta-feira, 21 de abril de 2005
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