sexta-feira, 1 de abril de 2005

A despedida

Primeiro foram as cadeiras azuis que já nasceram mortas. Nunca foram reformadas (pintar não vale) e sempre foram a parte menos "nobre" do Maracanã. Mesmo com uma visão em certos pontos boa, nunca foi um setores mais procurados pela torcida. Mas estão lá.

Depois, reduziram as arquibancadas colocando cadeiras de plástico em toda sua extensão. Num genocídio de lugares, acabaram de vez com o título de Maior do Mundo do Maracanã. O cimento mais conhecido do mundo futebolístico jamais vai tremer como fez no passado. Conversando com amigos mais velhos, vejo a tristeza nos seus olhos ao aceitar que os grandes públicos não voltarão e que hoje, qualquer 60 mil pessoas "lotam" o estádio.

Mas de todas as mudanças, nenhuma será mais sentida, mais comentada e principalmente, mais impactante que o fim da geral. Mesmo sendo o lugar mais barato do estádio, sempre foi o de maior destaque. Enquanto as arquibancadas faziam a festa das bandeiras, os tipos, as figuras e os "brasileiros" se espremiam nas gerais para ver "as pernas dos jogadores". Lá, a imprensa fazia as melhores matérias com populares ávidos por aparecer na tv. Os ridículos cartazes globais, que no Brasil inteiro tomaram as arquibancadas, no Maracanã, só encontraram espaço na geral.

Eu, mesmo sendo baixo para ver satisfatoriamente um jogo por lá, já fui algumas vezes no folclórico local. E em TODAS as vezes, sai com história pra contar. E também ouvi cada coisa...

Me lembro de ter tomado a maior chuva da minha vida para ver Flamengo x Paysandú e o Flamengo perdeu. Onde eu estava com a cabeça para ver esse jogo de geral, com o dilúvio que tava caindo, eu não sei. Fui num Flamengo x América em 2000 com minha mulher (na época, namorada). Ela dormiria na minha casa após o jogo e encheu minha mochila com apetrechos femininos. Na hora de passar pela barreira policial, o guarda, mui-educado, pediu para abrir minha mochila. Uma mochila de homem, carregada por um homem, cheia de calcinhas, escovas, cremes para pele etc, etc, etc... Sim, eu fui zoado pelos "poliça" até dizer chega. Eles sabiam que não era meu, era dela, mas e daí? A gente leva na boa.

São várias passagens, mas a melhor história, quem contou foi um amigo meu. Ele foi num jogo aí de estadual qualquer e lá pelas tantas, alguém expeliu um, digamos, "cheiroso". O pessoal em volta se revoltou. Quem "flatulou"? ? gritavam todos ensandecidos, loucos para esganar o desgraçado. A geral pode ser barata, pode ser povão, mas vamos respeitá-la. As "investigações" se seguem até que uma figura com cabelos desgrenhados e apenas três ou quatro dentes na boca aparece. Na mesma hora gritam: "foi o vampiro!". "Qual é vampiro? Peida não". Tá, tudo bem, lendo não é grande coisa, mas o cara contando foi muito bom.

Mas enfim, a geral vai acabar. Quis o destino que a última grande decisão que ela pudesse ver, fosse o mais charmoso e conhecido clássico do Brasil, o Fla-Flu, na Taça que leva o nome da cidade. Seja lá quem for que faça a final contra o Volta Redonda, não será a mesma coisa.

Para nossa alegria, a geral vai se despedir dos grandes jogos com o Flamengo em campo. A torcida que melhor simbolizou o espaço vai estar presente, mesmo que em número demasiadamente reduzido por causa de limitações ridículas impostas pela Polícia. Mas eu acho que a geral deveria fechar depois do Fla-Flu. Fechar mesmo. Nada mais poderia ocorrer ali. Pelo simbolismo que o local representa, ele não poderia se despedir vendo o Volta Redonda em campo.

E é por essas e outras, que o Fla-Flu é o que é. E o Maracanã decidiu: se tiver que ser a última grande decisão com geral, que seja um Fla-Flu.

Flamengo Net

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