terça-feira, 1 de março de 2005

Rio e Flamengo

Colegas, hoje a capital espiritual do Brasil comemora 440 anos. Não poderia deixar de passar em branco a data, até porque a história do Flamengo e a história do Rio de Janeiro são indissociáveis.

"Flamengo joga amanhã/ eu vou para lá/ vai haver mais um baile no Maracanã/ o mais querido tem Rubens, Dequinha e Pavão/eu já rezei pra São Jorge/ pro Mengo ser campeão". Este samba de Wilson Batista, grande rival de Noel Rosa e rubro-negro fanático, mostra como o Fla está impregnado no imaginário da cidade. Já disseram que o Rio é uma cidade entre a Europa e a África, lugar onde uma moderna cultura negra conquistou mercado e se afirmou pelo rádio, este instrumento da civilização. Ora, assim é o Flamengo, clube que se notabilizou no futebol, estes esporte estranho que despertava a ira de um cronista do porte de Lima Barreto, que via nele apenas um jogo sem graça importado dos ingleses. Treinando na Praia do Russel, esse time foi logo adotado pelas camadas populares da cidade, e tornou-se expressão maior da "civilização carioca" -- gigante, nacionalmente famoso, mas ainda assim tratado com informalidade pelos torcedores. Com as cores de uma vela de macumba, mas por isso mesmo gracioso.

Flamengo e Rio de Janeiro tem, portanto, muito em comum. São símbolos de um país que já ousou ser diferente e aprendeu a não se envergonhar do que é. O Rio foi construído culturalmente quando as portas que comprimiam em comunidades distintas as diversas gentes que aqui habitavam foram rompidas, e o Mengo ganhou a cidade quando seus habitantes o "sequestraram". Desde então, o Rio deixou de tentar ser uma cidade francesa, e o Fla extrapolou em muito a Zona Sul. Wilson Batista sabia disso.

Hoje os dois vão mal das pernas. Não por acaso, o país vai mal, lá se vão 10 anos de hegemonia paulista na política e alguns anos de fracassos no futebol. Mas a gente não desiste. No dia em que decretarem a nulidade do Rio de Janeiro ou a irrelevância do Flamengo, podem fechar a conta e inventar outro país. Que pode até ser mais "eficiente" e "competitivo", mas não terá graça, elegância e sacanagem. Certamente, não terá um Wilson Batista, mas uma tropa de Brunos e Marrones. Pena.

Parabéns pra gente

Flamengo Net

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