quinta-feira, 21 de outubro de 2004

Junior, 1000 jogos - Texto 11 - O mais completo - Por Alex Souteiro*

Maracanã era sinônimo família Souteiro nas cadeiras. Freqüentador assíduo desde 76, ainda não tinha sentido o real significado de decisão. Meu pai tinha medo, e eu ficava para trás por não ter tamanho nem idade pra encarar o 268 em carreira solo.

Mas aquela tarde de domingo, no saudoso ano de 1982, teria um sabor diferente. Minha família é dividida entre flamenguistas e tricolores. E foi com uma tia tricolor que presenciei a primeira decisão da minha vida.

O jogo era Flamengo x Grêmio. Decisão do Brasileiro, Maraca cheio, e time deles jogando por 3 empates. Missão sempre difícil para um time vitorioso, e que nunca desistia mesmo nas maiores dificuldades.

Praxe de jogo com times do Sul, o embate se amarrava até parte do segundo tempo. Uma jogada isolada daria vantagem ao time do Sul, e consequentemente o dever de voltar pra casa precisando apenas de um empate. 38 minutos do segundo tempo. Haveria tempo para empatarmos? Se fazer um gol no Maracanã já estava difícil, é só imaginar o que seria fazer no Olímpico lotado.

Júnior marcava e atacava com maestria, e foi justo ele quem iniciou a jogada do gol de empate. Depois de passar mais de 80 minutos no vai e vem da lateral, teve um rompante de vigor físico, ao dividir uma bola próximo a linha de fundo, pelo lado esquerdo do campo. Num daqueles lances que somente aconteciam com o Flamengo, alçou a bola na área. Vindo de trás, como um foguete, Zico solou a bola para se antecipar a De Leon, e com 3 dedos fuzilou o goleiro Leão.

O time veio comemorar na beira do gramado, quase que no fosso. Eu estava nas cadeiras, e descendo até o limite com a geral, eu ficava a poucos metros dos jogadores.

Foi isso que aconteceu. Quando o gol saiu, aos 40 e tantos minutos do segundo tempo, eu corri tal qual um louco, chorando e gritando do alto dos meus 14 anos. Posso dizer que passei mal. Eu não parava de chorar, pois nossa torcida sabia que uma derrota implicaria na multiplicação das dificuldades pro Bi. E um empate, com a jogada acontecendo ali, pertinho, foi demais pra mim.

Esse jogo me marcou. Se eu morresse naquela tarde, morreria feliz.

Foi o maior lateral esquerdo que vi jogar. Mais completo. Tão completo que - depois de velho - deu aula no meio de campo, encantando como sempre fizera durante sua carreira.

Obrigado, Júnior!

* Alex Souteiro, 36, carioca, é publicitário e trabalha na cidade de Curitiba.

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