Desesperança
Contra o Santo André, foi ódio e dor. Contra todos os outros, foi estupefação e indignação. Neste sábado, porém, o sentimento mais forte após o pavoroso vexame contra o péssimo time do Juventude (um time no qual Igor é titular absoluto, vejam bem) foi a desesperança. Depois daquilo, leio esse ótimo blog e vejo-o como a casa do ditado, só que falta pão e todo mundo tem razão.
Eu não consigo ver esperança, sabendo que para não cairmos para a segunda divisão dependemos de Jean fazer gols (claro, o Abel nunca percebeu que para vencer jogos é preciso fazer gols).
Hoje, me lembro das palavras do angolano José Eduardo Agualusa, na Festa Literária de Paraty, provavelmente citando um outro autor: exílio é todo lugar onde não vemos traços de nossa infância.
Por isso que eu acho que todo mundo aqui, apesar de discordar em uma coisa ou outra, tem razão: o Flamengo é importante para nós, para muita gente, por algum tempo ou todo, é até a mais importante da vida. Exatamente porque o Flamengo é aquele elo, aquele cordão de prata que nos mantém atados aos sonhos, o Flamengo é a nossa forma de lembrar de nossos avós, pais, amigos de outrora, o Flamengo é a forma de guardar nos nossos corações momentos como o gol do Rondinelli ou o gol do Leandro no fim daquele Fla-Flu.
De repente, eis que esse Flamengo que está aí, bom, tudo bem, há um trabalho em andamento, há uma diretoria que tenta remendar prejuízos do passado, mas, acima de tudo, esse Flamengo que está aí não nos deixará recordações de nada. Jamais me lembrarei, daqui a dez anos, de um Jean, de um Douglas Silva, de um Negreiros.
E é exatamente por isso que esse Flamengo só me dá a desesperança de um exílio. Porque de repente, passou-se da glória para o vexame. De muitos anos para cá, nos contentamos com estaduais (alegrias legítimas, adianto logo), mas levamos surras homéricas de Paranás, Goiás, Juventudes, Atléticos Paranaenses (que apanharam de seis do Inter), andamos raspando pelo rebaixamento, colecionamos derrotas e perdas inacreditáveis de títulos.
Como em "Confortably numb", a criança cresceu, o sonho se foi. A única coisa que nos mantém de pé nesse tenebroso exílio que já vem de anos são as recordações de um Zico, a única coisa que nos mantém estranhamente de pé é o lamento eterno do Moraes, "e agora como é que eu fico, nas tardes de domingo, sem Zico no Maracanã?"
Sim, eu acho que todos aqui têm razão, aqui ou ali. Porque estamos todos exilados, longe dos traços felizes de nossas infâncias, em que existia um Flamengo de esperança. E eu só queria de volta pelo menos a esperança, já que aquele Flamengo não volta mais.
Eu já faço daqui a promessa: me tornarei o torcedor mais fiel do mundo, irei a todos os jogos possíveis na Série B. Desde que na Série B me devolvam a anistia ao coração e eu seja levado de volta para o meu Flamengo de sempre. Acredito nisso. Por favor, peço que os otimistas (me considero um deles) me poupem de ter que responder a argumentos como "está muito cedo". Não está. Olhem para a tabela, vejam o que temos pela frente. Depois olhem pro nosso ataque, vejam o que temos na frente. Sim, não vai ser fácil. Será preciso que nos devolvam a esperança. E é isso o mais triste: não sei quem poderia fazer isso.
Talvez nós mesmos, que tanto esperamos.
domingo, 18 de julho de 2004
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