quarta-feira, 15 de dezembro de 2010


Calúnia do Rúbio Negrão

Comunicado de falecimento. A quem interessar possa.

Cumpre ao consternado sequestrador (que prefere manter seu nome em sigilo) de Manuel Joaquim Cabral Filho da Pontes comunicar o falecimento deste aos seus familiares, amigos, clientes e fornecedores.

Apesar de ter sido tratado de forma digna, o decente cidadão sucumbiu tal qual um esfaimado tratado a pão de ló. Dignidade demais atrapalha.

Este anúncio não está sendo veiculado em um jornal de grande circulação em virtude da absoluta falta de recursos para tal, uma vez nenhum lucro foi auferido pelo sequestrador a título de resgate.

Assim sendo, o sequestrante solicita aos leitores e comentaristas do blog da Flamengonet que divulguem o trágico desfecho deste triste imbróglio, que se arrastou por meses, e que teria sido bem menos traumático se o sequestrado fosse um pouco mais pé-quente.

Caso alguém venha a lamentar a perda do de cujos (melhor “de cujos” do que “deu cujos”, postumamente falando), o sequestrador gostaria de reafirmar que o refém sempre foi muito bem tratado, vindo a falecer não de frio, doença ou maus-tratos, mas sim de profundo tédio causado pelo futebol apresentado pelo Flamengo por ocasião dos últimos jogos do Brasileirão 2010 (tédio que só não foi mais avassalador graças às zapeadas que ele dava para a TV Senado quando eu saía para buscar mais vermute na geladeira).

Mesmo assim, o Sr. Filho da Pontes fez tudo o que pôde para livrar o Flamengo de uma humilhação semelhante a que sofria, só que na Série B. Ele torceu, gritou, rezou e suportou todos os tormentos e privações sempre de maneira nobre e honrada, mesmo quando o Val Baiano ia pro jogo.

O Sr. Filho da Pontes pode ter partido prematuramente, mas pelo menos foi poupado de ver seu clube de coração ser ultrapassado pelo Fluminense na disputa pelo posto de segundo time em importância do Rio de Janeiro.

Além disso, deixou uma lição eterna para as gerações futuras. Diz-se que “onde come um, comem dois”, mas o sequestrado provou a falsidade dessa afirmação capciosa. Ainda mais quando aquele que come, come pouco e mal pakarai! Aqui em casa, quer dizer, na casa do sequestrador, nem ele mesmo come direito, que dirá um refém ocioso morgando o dia inteiro no quarto de empregada!

Portanto, não foi assassinato. Foi eutanásia.

Porém, o sequestrante aproveita para ressaltar que nada tinha contra o refém. Ele foi aduzido com o único intuito de chamar a atenção do mundo para a possibilidade de rebaixamento do Flamengo à época. Foi a forma encontrada de conscientizar os atletas do referido Clube de que aquele mesmo drama poderia ocorrer a algum ente querido.

Melhor dizendo: caso o Flamengo caísse, o refém também, por assim dizer, “cairia”, e um substituto à altura seria providenciado...

Agora que o Sr. Filho da Pontes se foi, o sequestrador passa a torcer pela queda de todo o Conselho Diretor do Clube, para que a sua morte não tenha sido em vão.

Nota do Rúbio Negrão: Aos que estão revoltados por eu ter matado o refém, só respondo uma coisa: Agatha Christie matou Hercule Poirot. Conan Doyle matou Sherlock Holmes. Angeli matou Rê Bordosa. Bruno matou as chances na Copa de 2014. Ora, então por que eu também não posso matar meu personagem? Só porque sou pobre e desempregado?

Ainda tentei vender os direitos autorais do mesmo para algumas editoras, mas ninguém quis comprar porque ele é vascaíno, um hábito socialmente mais reprovável que o fumo.

Aí, o refém virou um parasita social aqui na minha gaveta. Não tomava banho, não comia, não bebia, não respirava, não se mexia, vivia em letargia... até parecia a Pat depois de uma overdose de adrenalina.

Mas quem garante que eu realmente matei o refém? Em função do atual recesso futebolístico, quando jornais, revistas e sites não podem ficar vazios, há por aí uma outra versão dessa história, segundo a qual o meu refém se encontra em Bali, curtindo adoidado os dólares que furtou do meu cofre antes de fugir na véspera do último Flamengo x Cruzeiro.

Acredite em qual das duas preferir. Como diria Pirandello, “Assim é se lhe parece”.

E só pra esclarecer: o Flamengo não está contratando nenhum Pirandello.

Acho.

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