Saudações
flamengas a todos. O texto dessa semana atende aos pedidos dos
colegas nos comentários, que me cobraram insistentemente para falar
do assunto. Aí vai. Só não me venham com “pô, de novo?”. Eu
avisei. Boa leitura.
CAÇANDO MITOS - PARTE 3
CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1987
O
MITO
O
Campeão Brasileiro de 1987 é o Sport. O Flamengo e o Internacional
rasgaram o regulamento e se recusaram a disputar o cruzamento entre
os finalistas do Módulo Verde e do Módulo Amarelo da competição
promovida pela CBF.
OS
FATOS
De
todas as lorotas disseminadas pela seita antiflamenga, essa é de
longe a mais chata e a que mais aporrinha os ouvidos do torcedor, uma
ladainha que ninguém mais aguenta discutir, até por conta da
desinformação. Nem eu mesmo estava com muito ânimo de falar disso,
mas por conta de inúmeros pedidos vou tentar resumir o que aconteceu
na saga do tetracampeonato brasileiro do Flamengo.
Em
07 de julho de 1987 o Presidente da CBF, Otávio Pinto
Guimarães, declara que a entidade não reúne condições de
organizar o Campeonato Brasileiro, já prevendo a mesma bagunça
observada na competição anterior. A declaração é recebida sem
muita suspresa, dada a cintilante incompetência vivida na gestão da
falida Confederação.
Já
em 11 de julho, os clubes de maior expressão, que já andavam
mobilizados, anunciam que irão organizar seu próprio campeonato.
Liderado por Márcio Braga (Flamengo), Carlos Miguel Aidar (São
Paulo) e Paulo Odone (Grêmio), é criado o Clube dos 13, composto
pelas doze maiores forças mais o Bahia (por causa das grandes
arrecadações em seus jogos). A ideia é montar uma competição
enxuta, com regulamento simples e de fácil comercialização para os
patrocinadores.
Aí
está a gênese da confusão. Otávio Pinto se licencia (viaja à
Disney) e assume Nabi Abi Chedid, seu desafeto e com uma postura mais
radical. Nabi anuncia que a CBF vai organizar o campeonato, ameaça o
C13 de desfiliação e todo dia aparece com uma novidade. Campeonato
com 20, 32, 48, 64 e 80 clubes. Até o simpático Botafogo de
Ribeirão Preto pede uma boquinha, através de um bilhetinho do
Presidente Sarney.
A
crise atinge seu ponto máximo em agosto. As partes radicalizam, a
CBF define a competição com 64 equipes. O C13 também anuncia o seu
torneio, a Copa União, apenas com os treze integrantes. O Flamengo,
pelo campeonato da CBF, enfrentará o Botafogo na Primeira Rodada.
Pela Copa União, jogará um Fla-Flu. A CBF proíbe os clubes de
marcarem amistosos durante a realização de seu campeonato e vetam a
participação de qualquer árbitro em jogos do C13. É o caos, a
bagunça, e tudo leva a crer que haverá o irremediável impasse.
Vários analistas cravam que não haverá campeonato. As Federações,
apreensivas (e rachadas) começam a articular o impeachment da dupla
Otávio-Nabi.
Em
03 de setembro, finalmente o acordo, costurado com Otávio Pinto, de
visão mais maleável. O C13 cede e aceita montar um campeonato com
mais três equipes, convidadas a seu critério. Haverá quatro
módulos, e o campeão sairá do Módulo Verde, o campeonato do C13.
Ao final do ano, é previsto um cruzamento com os finalistas do
Módulo Amarelo (composto por equipes de porte mediano) para apontar
os representantes brasileiros na Libertadores (VER IMAGEM ABAIXO, CLICAR PARA AMPLIAR). O C13 terá autonomia
para organizar e vender seu campeonato, com a CBF dando apoio
logístico (árbitros, delegados etc).
Pacificados
(temporariamente) os ânimos, o C13 começa a formatar seu
campeonato. Define grupos, fórmula de disputa, tabela. Fecha um
contrato milionário com a Rede Globo e outros ambiciosos acertos com
a Coca-Cola e a Varig. Antes mesmo de começar, a Copa União já
está paga e dá lucro. A expectativa é grande, enfim um torneio com
os melhores, e apenas os melhores times do país.
Mas
a reação não tarda. Sentindo-se excluídos, prejudicados,
perseguidos e discriminados, os times amarelos ameaçam uma enxurrada
de ações judiciais, aliam-se a Nabi e tentam sabotar a Copa União
de todas as formas. O Sport tenta anular na Justiça o contrato com a
Globo. Perde. Tenta proibir as transmissões de jogos para Recife nos
dias de seus jogos. Perde. O América-RJ abandona o campeonato, pois
entende que, por seu porte e tradição, deveria estar no grupo de
elite. Liminares e contra-liminares pipocam aqui e ali, mas enfim a
Copa União parece pronta para iniciar.
Em
11 de setembro finalmente tem início a competição, com a partida
Palmeiras 2-0 Cruzeiro. DURANTE a partida, a CBF (Nabi) desafia os
clubes e divulga um regulamento que altera frontalmente o acordo que
viabilizara a competição. Nele, é alterado o cruzamento entre os
módulos, que passa a prever o campeão, ao invés do representante
na Libertadores. Os clubes passam a ser obrigados a solicitar, com
prévia antecedência, autorização à CBF para a transmissão dos
jogos, e é proibido o televisamento para a mesma praça (cláusulas
que inviabilizam o contrato com a Globo). A divulgação do
regulamento APÓS o início da competição revolta os dirigentes do
C13, que avisam que não irão mais participar do cruzamento nem
mesmo para definir a Libertadores, além de ignorar solenemente as
cláusulas do televisionamento. Há outro problema. O Regulamento
anunciado pela CBF não foi validado por um Conselho Arbitral formado
pelos clubes (conforme reza o CND, órgão máximo do esporte na
época, em sua Resolução 16/87). É, portanto, nulo. Mais uma
enxurrada de liminares e medidas cautelares vai se acumulando na
Justiça.
A
Copa União vai seguindo suas rodadas, sucesso estrondoso de público.
O Flamengo, após arrancada sensacional e vitórias antológicas,
conquista o Tetracampeonato Brasileiro, numa jornada que consagra em
definitivo o craque Zico, enfim uma unanimidade nos quatro cantos do
país, assombrados com sua mitológica recuperação.
Enquanto
isso, o campeonato amarelo, após patinar em obscuras rodadas de
futebol medíocre, muita pancadaria e cenas de pugilato, chega ao seu
final, com a “emocionante” partida entre Sport e Guarani, que vai
aos pênaltis. Após um bizarro empate de 11-11, os times resolvem
abandonar o campo e anunciam que irão dividir o título, uma
palhaçada que somente agrada ao SBT (que transmitia o circo), pois
a pantomima estava atrasando o Show de Calouros.
Mesmo
passíveis de punição por um ano por terem abandonado o campo
(punição que o Coritiba sofreria dois anos mais tarde), os rebeldes
amarelos querem que o Regulamento seja cumprido e haja o cruzamento.
Só que não há Regulamento, pois a peça da CBF não foi homologada
pelo Conselho Arbitral dos clubes. Por pressão do C13, o Conselho
(formado pelos 32 melhores colocados do Brasileiro-86, voto
qualificado, não unitário) é convocado e decide, por ampla
maioria, que NÃO haverá cruzamento dos Módulos. A CBF alega que a
alteração exigiria unanimidade dos votantes, ignorando que a medida
somente seria cabível se o Conselho tivesse homologado PREVIAMENTE a
competição, o que não ocorreu. O CND decide que o Conselho
Arbitral é válido e o Campeão Brasileiro de 1987 é o Flamengo.
Aqui
se encerra a questão, em seu aspecto esportivo.
Não me interessa o que pensam os magistrados de Pernambuco (para que time torcem?), é irrelevante que Sport e Guarani tenham jogado dois amistosos em 1988, carece de validade o que opinam os atuais especialistas esportivos incapazes (por desinteresse?) de escavar a história e assim contrariar suas convicções clubísticas e regionais (se o campeão tivesse sido o Inter? O barulho seria o mesmo?)
Concluindo
e resumindo. O C13 não rasgou Regulamento nenhum. Em nenhum momento
aceitou-se cruzamento de módulos para definir o campeão, a CBF
sabia disso e anuiu. Com a bola rolando, tentou uma manobra e foi
rechaçada. De fato e de direito (esportivo) o Flamengo é o ÚNICO
Campeão Brasileiro de 1987.
Essa
questão já estava pacificada, salvo um ou outro asterisco que algum
detalhista ainda se dignava a publicar em seus periódicos. Até que
uma diretoria arrivista do São Paulo resolveu ressuscitá-la para
vender camisas e exercitar sua eterna veia “wannabe”. Uma parcela
facciosa, regionalista e pouco afeita a pesquisas (wikipedia?) da
mídia comprou a falácia e o assunto voltou a ganhar corpo.
Não
sei, mas algo me diz que deveriam ter ficado quietos. O tempo dirá.
(continua)
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