Saudações
flamengas a todos.

Dá
pra falar mais alguma coisa?
Bem,
mas nessa semana comenta-se muito o tal centenário do Fla-Flu, muita
coisa bonitinha sendo dita, enfim. Assim, também vou deixar aqui
minha singela homenagem, tomado que estou desse sentimento de
tolerância e fraternidade, quase simpatia com nosso colorido rival.
Boa leitura.
*
* *
1945.
Com o final da Segunda Guerra, uma atmosfera de euforia e otimismo
paira sobre o País, ansioso por tempos menos sombrios e mais
arejados. Os pracinhas da FEB começam a projetar seu retorno ao
território brasileiro, entre eles o atacante flamengo Perácio, que
terá feito muita falta na campanha do tri. Aliás, o Flamengo sonha
com o tetracampeonato no Carioca que irá iniciar no segundo
semestre, mas seu treinador Flávio Costa, realista, sabe que a
conquista será extremamente complicada.
A
base da equipe é até mantida, mas Domingos da Guia (transferido no
ano anterior para o Corinthians) segue fazendo muita falta. Seu
substituto, Quirino (apelidado jocosamente de Quirino da Guia),
apesar de esforçado, mostra-se nitidamente limitado e não responde
às necessidades de uma defesa já desequilibrada. E com outros
adversários se reforçando (notadamente o Vasco, que está voando),
Flávio Costa sabe que terá um árduo trabalho pela frente. O time
do Flamengo é bom (com Zizinho, Newton, Biguá e o gênio Zizinho
atuando na seleção, além do goleador Pirilo), mas precisará se
reforçar. E nesse contexto, uma transferência sacode o Rio de
Janeiro.
O
ressuscitado Torneio Municipal é uma das competições preparatórias
para o Campeonato Carioca, e desde as primeiras rodadas o Flamengo
demonstra uma notável irregularidade, distribuindo e levando
goleadas com inacreditável facilidade. O time visivelmente não está
pronto, e a presença de um zagueiro forte como Norival será
imprescindível para Flávio arrumar sua defesa. Mas o Flamengo não
consegue regularizar Norival para o Fla-Flu, e o craque ficará fora.
Com a ausência de Norival, o Fluminense é considerado amplo
favorito para a partida.
Invicto
na temporada, o Fluminense ainda sonha com a conquista do torneio.
Pensa na vitória para decidir o título na rodada seguinte, no
confronto direto com o Vasco. Seu time é inferior ao Flamengo, mas
está mais organizado e equilibrado. Os destaques do tricolor são o
goleiro Batatais, os médios Pascoal e (o famoso) Bigode e o atacante
Pedro Amorim. O Flamengo, já sem chances, busca seguir arrumando o
time nas partidas que restam.
O
público em São Januário é excelente, muito por conta do “Caso
Norival”, que acirrou a rivalidade entre as duas torcidas. O
árbitro trila o apito, e o Flamengo logo solta seu tropel em busca
do gol, comportamento natural na ofensiva equipe de Flávio Costa. A
pressão dá resultado, e Zizinho, após bonita jogada individual,
acerta um balaço na trave. O atento Pirilo vai no rebote e escora.
Com 5' de jogo, o Flamengo faz 1-0.

Porém,
logo no início do segundo tempo os acontecimentos começam a evoluir
rapidamente. O atacante Geraldo, que havia pisado de mau jeito no
final da primeira etapa, volta do intervalo sentindo muitas dores e
vai fazer número na beira do campo. Outra baixa é Bigode, que
também sente um desconforto e ainda está sendo tratado no
vestiário, nem retornando a campo (somente estará em plenas
condições após 15 minutos). O lobo Flávio Costa percebe o
momento. O rival está vulnerável. É agora.

Mas
o Fluminense se desinteressa da partida, e passa a jogar apenas por
sua honra, povoando sua intermediária, trocando passes e rezando a
todos os santos. Mas Flávio manda o time seguir atacando, e Zizinho
resolve jogar seu máximo. E quando Zizinho resolve atuar em alto
nível, não há força da natureza capaz de pará-lo. Batatais
mostra porque é um dos grandes goleiros do país e vai operando um
milagre atrás do outro. O torcedor fluminense deixa as arquibancadas
de São Januário a cerca de vinte minutos do final, quando Tião
amplia para 5-0. A Charanga de Jaime de Carvalho está animadíssima,
eufórica, imparável, para desespero de Ari Barroso, que não perde
tempo para cornetar a turma. Mas Barroso está contente, não para de
trilar sua gaitinha. O Flamengo arrefece, cansado, mas não deixa de
ocupar o território tricolor. Senhor do campo, do jogo e da tarde,
subjuga de forma inapelável um adversário completamente desnorteado
e rendido.

Poderia
ter sido de dez, mas não há mais tempo. A verborrágica surra
flamenga terá consequências, acabando e inviabilizando toda a
temporada tricolor, que demorará a se recuperar do baque, afundando
em uma duradoura crise. Norival irá estrear e jogará pelo Flamengo
por quatro anos, com bom desempenho. Mas o rubro-negro, como previra
Flávio, demorará a conseguir construir um time realmente de ponta,
mergulhando em longa e incômoda transição, a ser somente quebrada
com uma renovação completa dos conceitos e formas de trabalho do
futebol profissional, processo a ser liderado pelo paraguaio Fleitas
Solich.
Mas,
nesse junho de 1945, o torcedor flamengo pouco se importa com esse
panorama e com as perspectivas. Afinal, a Guerra acabou, o Rio
comemora, o Brasil está em festa, o Mengo é o atual tri e o time
acaba de meter 7-0.
Mas
o futebol vive de ciclos. E um novo ciclo está prestes a começar.
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