Alfarrábios do Melo
1950. O futebol brasileiro vive grande momento, às portas da Copa do Mundo que está para começar. A seleção brasileira vem em grande fase, no ano anterior conquistara o Sul-Americano, e suas atuações recentes motivam o torcedor, animado especialmente com seu craque maior, o ponta-de-lança Zizinho, estrela do Flamengo. Mas Zizinho não parece contente. Sente-se desprestigiado no clube de coração. Não recebe salário compatível com sua condição de astro de primeira grandeza, e tantos anos de serviços prestados. Inteligente, manifesta seu descontentamento de forma sutil, após não conseguir resposta positiva da diretoria, que considera seu salário “justo”. E logo a história vaza para os jornais, sem grande estardalhaço. O Bangu, clube modesto situado no bairro suburbano de mesmo nome, está em ascensão. Possui planos ambiciosos, quer se tornar grande, no mesmo patamar dos cinco maiores clubes da cidade. E começa a investir num elenco forte para a disputa do Campeonato Carioca, além de cavar um convite para uma importante excursão no exterior. Consciente de que Zizinho anda com muxoxos no Flamengo, o dirigente banguense Guilherme da Silveira Filho marca um encontro com o presidente rubro-negro, Dario de Mello Pinto. “Gostaria de lhe parabenizar pelo convite à excursão, o Bangu merece”, começa Dario, “obrigado, é muita gentileza de sua parte, estamos nos reforçando para representar o Brasil à altura”, “tenho certeza que vocês conseguirão”, “é, mas se a gente tivesse um Zizinho as coisas seriam mais fáceis”, “impossível, Zizinho é nosso ídolo”, “é, uma pena que ele é inegociável”, “não, aqui no Flamengo ninguém é inegociável”, “nem o Zizinho?”, “Silveirinha, presta atenção: vendemos o Leônidas e fomos bi, vendemos o Domingos e fomos tri. A gente disputa campeonato com qualquer jogador”, “então ponha preço no Zizinho, quanto ele vale?”, “quinhentos mil”, “tudo bem, fechamos nesse valor”. Incrédulo, o vaidoso dirigente flamengo observa Silveirinha puxar o talão de cheques e preencher uma folha com o valor estipulado. O que iniciara como um mero jogo de palavras termina como um dos mais inacreditáveis negócios já consumados por uma diretoria de um clube de futebol. Zizinho, o maior jogador da história do Flamengo antes de Zico, tido como um dos maiores craques do nosso futebol, é vendido a um clube emergente endinheirado por um preço muito abaixo do valor de mercado. Ao tomar conhecimento da história, Zizinho jura nunca mais atuar por seu clube do coração. Vai jogar no Bangu e anos depois no São Paulo, onde mantém intacta sua imagem de craque e gênio. E todas as vezes em que enfrentar o Flamengo, sairá de campo com todos os prêmios de melhor da partida. A Nação, enfurecida, quebra, queima, esbraveja, submerge o clube em profunda crise. Mas alguns anos se passarão, e mais um tricampeonato chegará. Com outros jogadores. E o clube seguirá grande, resistindo a quem o dirige. Como sempre acontece em sua história. Até o dia em que o ciclo vicioso se romperá. Saudações flamengas. Desejo a todos um Feliz Natal e um Ano Novo pleno de conquistas para a Nação Rubro-Negra, aproveitando para avisar que os Alfarrábios retornarão dia 11 de janeiro. Quanto ao texto, espero que gostem. E aproveitem as metáforas. Há várias.
1950. O futebol brasileiro vive grande momento, às portas da Copa do Mundo que está para começar. A seleção brasileira vem em grande fase, no ano anterior conquistara o Sul-Americano, e suas atuações recentes motivam o torcedor, animado especialmente com seu craque maior, o ponta-de-lança Zizinho, estrela do Flamengo. Mas Zizinho não parece contente. Sente-se desprestigiado no clube de coração. Não recebe salário compatível com sua condição de astro de primeira grandeza, e tantos anos de serviços prestados. Inteligente, manifesta seu descontentamento de forma sutil, após não conseguir resposta positiva da diretoria, que considera seu salário “justo”. E logo a história vaza para os jornais, sem grande estardalhaço. O Bangu, clube modesto situado no bairro suburbano de mesmo nome, está em ascensão. Possui planos ambiciosos, quer se tornar grande, no mesmo patamar dos cinco maiores clubes da cidade. E começa a investir num elenco forte para a disputa do Campeonato Carioca, além de cavar um convite para uma importante excursão no exterior. Consciente de que Zizinho anda com muxoxos no Flamengo, o dirigente banguense Guilherme da Silveira Filho marca um encontro com o presidente rubro-negro, Dario de Mello Pinto. “Gostaria de lhe parabenizar pelo convite à excursão, o Bangu merece”, começa Dario, “obrigado, é muita gentileza de sua parte, estamos nos reforçando para representar o Brasil à altura”, “tenho certeza que vocês conseguirão”, “é, mas se a gente tivesse um Zizinho as coisas seriam mais fáceis”, “impossível, Zizinho é nosso ídolo”, “é, uma pena que ele é inegociável”, “não, aqui no Flamengo ninguém é inegociável”, “nem o Zizinho?”, “Silveirinha, presta atenção: vendemos o Leônidas e fomos bi, vendemos o Domingos e fomos tri. A gente disputa campeonato com qualquer jogador”, “então ponha preço no Zizinho, quanto ele vale?”, “quinhentos mil”, “tudo bem, fechamos nesse valor”. Incrédulo, o vaidoso dirigente flamengo observa Silveirinha puxar o talão de cheques e preencher uma folha com o valor estipulado. O que iniciara como um mero jogo de palavras termina como um dos mais inacreditáveis negócios já consumados por uma diretoria de um clube de futebol. Zizinho, o maior jogador da história do Flamengo antes de Zico, tido como um dos maiores craques do nosso futebol, é vendido a um clube emergente endinheirado por um preço muito abaixo do valor de mercado. Ao tomar conhecimento da história, Zizinho jura nunca mais atuar por seu clube do coração. Vai jogar no Bangu e anos depois no São Paulo, onde mantém intacta sua imagem de craque e gênio. E todas as vezes em que enfrentar o Flamengo, sairá de campo com todos os prêmios de melhor da partida. A Nação, enfurecida, quebra, queima, esbraveja, submerge o clube em profunda crise. Mas alguns anos se passarão, e mais um tricampeonato chegará. Com outros jogadores. E o clube seguirá grande, resistindo a quem o dirige. Como sempre acontece em sua história. Até o dia em que o ciclo vicioso se romperá. Saudações flamengas. Desejo a todos um Feliz Natal e um Ano Novo pleno de conquistas para a Nação Rubro-Negra, aproveitando para avisar que os Alfarrábios retornarão dia 11 de janeiro. Quanto ao texto, espero que gostem. E aproveitem as metáforas. Há várias.
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