De Geraldoassoviador@prasempre.com.br para Souza@flamengo.com.br
Olá Souza,
todo mundo quando chega aqui vai aos poucos perdendo o hábito de escrever regularmente, mas agora com as facilidades da internet pega até mal não se comunicar com vocês que ainda estão por aí. Não sei se você sabe quem eu sou, mas pergunte aí pro seu pai, grande rubro-negro, o que eu andei fazendo por ai quando jogava com o Manto número 8 ao lado do Zico.
Estou te escrevendo porque assisti ao jogo de domingo em que você estreou e também porque agora eu tenho certeza que você aprendeu que aquele sagrado pano vermelho e preto pesa uma tonelada. Quem viu o jogo junto comigo foi o Almir (aí ele era conhecido como Pernambuquinho, mas aqui eu coloquei nele o apelido de Travolta porque adora dançar nas boites) e o Valido (esse você tem que saber quem foi) que chegaram depois de mim mas já estão bem enturmados. Os dois sabem tudo da posição em que você joga e além de terem jogado muita bola eles tinham o couro grosso. Eram acostumados a tomar muita porrada dos adversários e metiam muito gol. Sem qualquer traço de soberba ou máscara eles afirmam categoricamente que nenhum atacante de hoje sequer entraria na grande área se jogassem com as interpretações da regra que se faziam nos anos 50 e 60. Não por falta de categoria, eles fazem questão de ressaltar isso, mas porque os beques da época simplesmente iam quebrar qualquer um que botasse a cara lá na frente e nem cartão iam levar.
E foi o Valido mesmo quem mais me incentivou a te escrever, Souza. Ele ficou muito chateado com aquela demonstração de imbecilidade de parte da torcida do Mengão. Todo mundo sabe que a impaciência da torcida do Flamengo vem do tempo das regatas, mas às vezes ela consegue ser um pé no saco até pros flamenguistas. Eu já perdi pênalti em final de Taça Guanabara contra os imundos e o mundo só não desabou na minha cabeça porque o Zico perdeu também. O Valido lembra que na decisão de 1944 em que jogou com 40 graus de febre ele às vezes ouvia um ou outro rubro-negro de maus bofes gritar: - Volta pra casa, argentino velho! Tu és passado! Vai pra Argentina e não volta! O Valido não ligou e mesmo ardendo em febre subiu mais alto que o Argemiro e que o Berascochea e testou com toda a força pro fundo do gol. Flamengo Campeão Carioca de 1944. No domingo o que aconteceu foi muito parecido, mesmo com aquela palhaçada de ficarem gritando o nome do Obina enquanto você desentrosado, sem ritmo e sentindo toda a pressão de vestir o Manto se esforçava pra acertar o Valido cutucou o Almir e disse: - O garoto vai fazer o gol.
Ao fim do jogo, tomando uma cervejinha nós três concordamos que foi bom ter marcado na estréia, Souza. Isso conta muito no Flamengo e já fazia tempo que não acontecia. Se não me falha a memória, o último centroavante a marcar na estréia pelo Mengão tinha sido o Liédson. Foi bom ter marcado, mas não pode perder a dimensão das coisas, foi um gol contra um time ainda pequeno pela terceira rodada da TG. Agora pra você dar um tapa de luva de pelica nos torcedores descerebrados que gritaram Obina basta que você mantenha a pegada e marque contra o Botafogo um ou dois gols (é mole, aqui nós já vimos que são fraquinhos).
E na hora de comemorar tenta não ficar fazendo punho cruzado ou punho fechado pra homenagear essa ou aquela torcida, no final é todo mundo Flamengo e a maioria não é nem dessa nem daquela facção.
Tenha calma e lembre-se que a torcida do Flamengo não é apenas a maior do mundo. Lembre-se de todos aqueles que vieram antes de você, Zico, Junior, Zizas, Didas e Dovais. É também a torcida mais mal acostumada da Terra.
Um abraço, Mengão Sempre!
Geraldo Cleofas Dias
segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007
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